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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Espero coduzirem-me à antecâmara
Onde espero, como num hall vazio,
Pra esperar pontualmente em fastio
De esperar vagamente uma outra câmara.

Vivo, mas desvaneço pouco em pouco,
Translúcido e morto como a água fresca
Que se propaga insípida e grotesca
Sobre seu leito, em passo largo e louco.

Penso ininterruptamente, mas durmo
E sonho em companhia dela às vezes...
Agito do meu corpo o véu noturno

Quando acordo, sabendo que suspiras
Espero findarem dias e meses
Inócuos e vãos como as minhas liras.
Tracei as flores astrais, por simetria
E deitei-me em lassos giros sobre os pântanos
P'ra compor em cada verso a sinastria
de cada darma num leque de crisântemos.

E que a naturaza me perturbe a carne
por conceder ao meu fluxo de vistas
Uma névoa melancólica de charme
e um drama infernal de moralistas...

Tragédia! Se não expresso a cada beijo
A coda mortal de todos os tempos
e a cara pura do sol que afoga

Do coração das partículas, despejo
Pela letra imóvel, e em cada momento
o orgulho ancestral de trajar-se a voga...
Sou um acidente qualquer, como a montanha
Envergadura infausta da crosta de pedra,
Forçada pelo magma, ela medra
As cumeeiras vastíssimas, sem façanha.

O acaso empenhou-se a planar, como o vento
Que suporta o peso das folhas, quando o outono
Força a abscisão sonora pra morrer com sono
Junto ao humus, deitadas sob o firmamento.

Encarno a beleza dos detalhes tranquilos
Que descansam, à tardinha, nos teus mamilos
Sem revoltas, quando do frisson sob os dentes

Dos teus amantes, condenso a tua beleza
Transfiro-lhe palidez (e certa leveza
De ser), e quem sabe se de repente...?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Alguém me disse que eu deveria explicar os poemas.

Bem;

Deixa eu te explicar uma coisinha, seu imbecil.

Todo poema é auto-explicativo, uma estrutura que envolve e se fecha em si própria: a partir de uma perspectiva única, um único enredo, desenvolve-se num significado cuja causa eficiente não diverge da causa final. A observação exterior não deturpa o sentido, pois a existência de sentido tem como condição sine qua non a observação exterior;

O POEMA É ABERTO E EXPRESSIVO, livre.

Em outras palavras;

leia e entenda como quiser, porque.... enfim; é a diversidade de entendimentos que dá prazer, e eu gosto de pensar que o que escrevo me ultrapassa e transcende... quando alguém me revela uma faceta estranha da criatura que eu supunha dominar por inteiro, sinto-me como um pai que vê o filho crescer.


Ps: Ok eu sou muito pretensioso...

mas eu juro que não queria ser.

Ps2: O que a princípio é melhor que não ser pretensioso
(por fingimento.)

Ps3: O que ainda é melhor que não conseguir ser pretensioso de verdade;

e querer ser.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

'Stou-me embora para ti
E me fui formado em nada
Hei falso que faço em se
Mesmado ao fêcho da quadra

Vero fico avesso em mim
Se perfiz-me na descida
E o que me quis eu quis assim
Num bilhete só de ida

Parti enquanto estive só
Avaro em pouco jamais
Senti das vezes inícios

Encantos medos tive dó
E ouvi das doses normais
Em segredos desperdícios

A segunda versão é a verdadeira, mas os parênteses (que são cabides para os entendidos) dificultam a primeira leitura, então, se vc quiser reler (que por sinal é um palíndromo) vá em frente;

Obs : O parêntese indica algo que pode ou não estar presente ou que pode ou não substituir o que está: a critério do leitor; por exemplo, d(v)os(z)es pode ser doses ou vozes, dependendo da sua pendência genética para o alcolismo e uma série enorme de outros fatores, que, se eu te contasse, você não acreditaria.

Obs2 : Só porque eu falei de alcolismo, doses não necessariamente se refere a doses de bebida,; não seja precipitado.

'Stou-me embora para ti(,)
E me fui formado em nada...
Hei falso que faço - em se -
Mesmado ao fêcho da quadra.

Ver(s)o fico [avesso em mim]
Se perfiz-me na descida,
E o que me quis eu quis assim:
Num bilhete só de ida.

Parte(i) enquanto estive só
Avaro em pouco (,) jamais (,)
Senti( )das vezes (:) inícios

En(m)c( qu)antos medos tive dó
E ouvi das d(v)os(z)es normais
Em segredo(s), (os) desperdícios.
Tu és! E mesmo que me faltassem memórias
Do semblante risonho na manhã de outono,
E me esmagasse a força gigante do sono
Mimetizando as parábolas ilusórias,

E mesmo que as tuas feições sempre escapassem
De mim - E eu perdesse a imagem que um dia tive
De ti - E eu deixasse os sonhos de que estive
Munido, esperando que se realizassem...

Quando analizasse o céu, com a minha minúcia
Ou o oceano, o mar! Por certo a natureza
Quando eu visse os rios efêmeros na serra

Reconheceria a inigualável astúcia
Com que Deus, para conservar tua beleza
Repartiu-a entre as maravilhas da Terra!
Se Juno cantasse no beiral da manhã
Junto aos trinados vibrantes, característicos
Do firmamento, onde pontilham asterísticos
(Semblantes dos pássaros míopes), amanhã

Eu lhe forjaria com amor e martelo
O sonho arquetípico, com direito a dote,
Pétala rubra, folha e caule com o corte
preciso e fragante no espinho, e certo esmero.

Pois é fato que adquiri alguma cautela
Com relaçãoao sete, ao oito, ou ao setenta
E à toda oscilação cromática da luz...

Quem buscaria as terras distantes se ela
Junto aos trinados vibrantes, concentra
a essência a que o universo se reduz?

sábado, 25 de outubro de 2008

Esse soneto vem acompanhado de uma interpretação harmônica, que é unicamente uma pretensão autoral de explanar uma pretenção de autoria; a vocês músicos, a quem Deus concedeu a estética de Schopenhauer, é concedida (como se fosse mesmo por mim) a possibilidade de interpretá-lo em qualquer tom (desde que seja menor.... rs rs rs).


Entristeço meu espírito em tom menor (Cm)
Na transição diatônica duma quarta (Fm)
Sétima em dominante pra que a linha parta (G/F)
Melódica, desusando medo ou pudor.

Como se a tirar me obrigasse a repor (Cm)
Suspenso Harmônico, que trançasse baixios (Csus)
E as fundamentais que a rugir fecundos cios (Gsus)
Sonhassem o fulcro dos engajos - maior. (C)

Volver a nona ao simulacro diminuto (C(9b))
Render-se aos encantos da décima terceira (G(13b) ou G+)
Tecer sustenidos referindo bemóis (G#7 ou Ab7)

E conversar o acorde simples no arguto (Am7(11))
Brincando na senda cromática primeira, (segue a escala)
(En)cantar as mínimas como sóis! (C7)


Alguém pode se arriscar numa melodia, mas aí já não é a minha praia... Aliás eu acho que essa harmonia é meio dissonante (pra não dizer feia [ - embora as mais belas harmonias sejam mesmo dissonantes! {como eu adoro parênteses e afins...}])
Que o sono abençoe meus olhos fundos,
E trance meus cílios negros em laços.
Tecendo as pálpebras frias de abraços,
Como as cerrações serenas dos mundos...

E que em sonho adormeçam íris úmidas
E entoem luz nas lágrimas salinas (em)
Cânticos plácidos, turvas retinas,
Num véu devasso sobre as curvas túmidas.

Que eu me enlace enfim em todas as cores
Nos corióides, sorventes sutis,
E me entorpeça o foco cristalino...

Quando abatido por vítreos humores
E oscilações dióptricas senis
Vou dormir a ótica de um menino...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Quando chove turva a imagem do Ganges,
E sob a superfície aquosa e pálida,
Dilata: sob o tom e o mantra plange
Entre o ego e a idéia se crisálida.

E eis o mito: Deus pela cor refrata
Em arco, halo e luz; segredo e forma:
A impressão de que a tudo se retorna
Tempo - sacro mistério - Templo e prata.

Quando chove, amarga o ato das falanges
vão ruindo a cena, o palco e os atores;
Gestos frágeis se perdem de repente...

Desbota o matiz que me surge à mente
Me impera a lembrança dos meus amores
vazios, como a chuva, sobre o ganges.
Circularmente a marejar o encanto
Premissa vária e forja; ou promessa
Centro, mergulho da margem espessa
Descrevente algoz, à força do portanto.

E entretanto, expoente radial
Aceno curto e herege da elipse
fatalmente o condena a um ponto tríplice
comutativo, equipotente e axial...

Entrevisto ao clarão do raio oblíquo
Diverge, senso fixo, atro ou comum:
Estrela d'alva, relembrando o breu;

Quem diria? Imaginário profícuo
Que gerasse Deus, os profetas e o um
Do fogo sagrado de Prometeu?!
Silhueta atroante, o Hymalaia
Níveo cume de prata no poente
E quando retorna o ocaso consente
Em matizar-lhe o tom, até que esvaia

A cor, que mesmo precessa da aurora
Possui correspondente ao crepúsculo
Bem observa, do fogaréu minúsculo
Mais um monge solitário, e embora

Reze o sutra ausente, supõe a matéria,
E reduz-se ao paradoxo vazio,
Na busca inadiável do equilíbrio...

"Pensa, ó monge, na beleza sidérea,
E sem que desça do espírito o estio,
Na probabilidade do ludíbrio..."
Levanto a aba do coldre sob o amarilho,
Pois sinto saudade de ver-te e me aflige
A obsolescência certa da tua efígie
Se o meu dedo nãopenetrasse o seu gatilho.

Disparo! Como me faz falta a tua voz!
-O teu grito solitário na escuridão...
O teu tom preciso dispensa diapasão!-
Como anseio estar de novo contigo à sós!

Aprecio o teu porte magno, o teu tambor,
O teu espírito em espiral sob o cano,
Os teus adornos, o teu perfil...

Quem sabe um dia a majestade desse amor
Não me obrigue ao rito de união (o puritano!)
Disparando-me também direto ao nihil!
Juno, como você tá? sinto-lhe a falta...
Pessoa ilustre em minha vida (Tu és!)
Saudoso da tua tosse e dos teus pés,
Teu olhar gostoso e distante - perna alta.

Pergunto porque me interesso!!! Perguntas...
"Perguntas por quê?"; Onde estás agora amor?
Dando prum canadense, imagino, flor
Florzinha amarela da vida profunda

Olha Juno, como você é perfeita
Pra mim, diatribe junonal tamanha...
Como me torturas sem mesmo sequer

Dar ensejo de resposta pra desfeita...
Viaja-te de novo!!!(à França, ou Espanha,)
Inda vou te comer quantas vezes quiser!
A cada ocaso renova a aliança
Em falsa premissa, fingindo jura
Qual promessa quando expia e cura
O espírito afinado com pedância.

E verso a verso a mentira se expõe
Em força (universal nas linguagens!),
Genitora das falazes paisagens
Vazias - de que em geral se dispõe.

Mal Julga aquele que ao vê-las condena
"pois o símbolo a que falta um referente
Dispensa o valor da realidade!"

Na boca de um tolo a palavra empena
Enquanto o sábio, invariável, sente
A sedução da possibilidade!

Juno acorda às sete horas, cabeça erguida
E co'o pente cerrado entre os louros cachos,
Frente ao espelho, seus olhos meandram riachos
Como o melindre de madona: aparecida...

Vestem-se voejantes tecidos passados
Vestido assim, qual circunlóquio de um futuro;
Tolda-lhe as mechas um arco vivo, de apuro
Os sentidos se exaltam; (esse tempo azado

Dará chance talvez pra que Juno me espere!)
Mas ela se vai.. e irá por certo de novo
Juno, filha dileta das minhas entranhas

Não há sentimento no mundo que supere
O retorno à casa, à pátria, ao meu povo
E o olhar de juno (azul! Sobre as montanhas...