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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

casais (ou o Jardim das Deilícias) parte I


Sinuosa disse por semelhança outra coisa que não pesquei. Soube via cósmica (astróloga amadora) que uma parcela robusta do Prazer se encaminhava para nós. Seria um dia de celebrar, uma efeméride, talvez um aniversário, mesmo que o movimento astral aí implicado fosse mais sofisticado que os já batidos 360 pelo sol. Cético de memória, também fui um cético social, que me pareceu boa praça no caminho da conversa a contradição.

Daí eu disse, quase condescendente, que a última das suas previsões não só não se concretizara como havia ocorrido o diametral oposto (o que na verdade era um exagero enfiado):

- Rosa não nasceu amarela, porém azul, Lembra? e ainda por cima tu deu de furar a mão e sangrar vermelho, corremos para a antitetânica.

Sinuosa não se dobrou, sempre sorrindo maliciosa e desconversando, como previsto todos na mesa adoraram

( - Rosa nasceu, esse era o essencial )

{no meu imo peito eu concordava. e com uma certeza que era também surpresa, como não sabia bem porque.}

Acabou chegando a hora da despedida mas a despedida com ela não chegava. Todos iam ficando sobre os cacos dos compromissos partidos; nos era curioso e admirável estar juntos :

Marasmo e Sinuosa com outros pares (antinômicos) insuspeitos. 
Eu via o diagrama das fodas possíveis e me deleitava, na imaginação do poder que sempre fui insuperável.

Súbito e Cheia deliciosos e frágeis de uma explosão no olhar junto com atenção redobrada mas passageira indo de um lado pro outro. Tinham uma horizontalidade interessante no amor. Conheci a ambos pelos pais de Cheia com quem tive negócios de risco não desprezível. O que muito me encanta quanto a essas ligações perigosas que sobrevieram tipo um incesto no dinheiro.

Falo deles primeiro, porém não por preferência geral mas por uma inclinação que tinham, como eu, à iniciativa.

Recordo também Cosmo e Cômica duas jóias peroladas na temperança da palavra. De pouco falarem não expressavam menos, garanto. Tinham, à altura, algum acesso ao tino corrente do dia baseado naquele saber intuído ou lembrado. Julgavam com ponderação, mas quase não julgavam porque compreendiam tanto que alcançavam a cumplicidade.

Era no exímio transporte que a cena evoluía, outros se reagrupando no salão, ao som que eu deixava perene nem alto nem baixo, sempre hipnótico.

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