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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Supersimetria

Olha os corpos escamando membranas,
Em revoluções suaves das bordas;
A Natureza se desfia em cordas
Pra enlaçar o Espírito de hosanas...

É a forma oculta de toda história;
E u'a mecânica análoga me oprime
Em que te amar é negar o que afirme
O meu amor profundo sem memória:

Busquei as falhas do mundo simétrico
Que em algum lugar o tempo volta atrás
Na lógica imensurável de Vênus,

Mas meu entendimento é todo métrico
E reconhece que te amo demais
E tu me amas cada dia menos...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Amor

Tudo parece quieto lá fora.
Quieto demais... e num tal silêncio
de ressecar as gengivas da aurora,
e apequenar-se esse mundo imenso.

Parece tão frio, aliás,
se bem que aqui dentro eu inda gelo;
mesmo puxando da manga o ás
e mastigando um chocolate velho...

Te ofereço e recusas: - Não gosto!
É o favorito de milhões,
mas a ti sequer desperta o dente.

Derrete como a hóstia e o rosto
contrai inteiro de comichões...
Será mesmo que você não sente?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

éden

à meia tarde eu remansava o inquieto no olho da serpente
aaaaera quebrando testa no busto
aaaapapo de chamar o panteão completo de socorro
e o tempo o todo tempo ia empacando no casco da mula
enquanto luarou a vida de vislumbre lua pra minguar o dia
no beijo de encontrar alguém

cobra é coisa que não se brinca de além mundo
se no fundo da garganta cristada de carbono
o sangue até se enamora de peçonha

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

o primeiro verso

registra viés da palavra na ante-sala do verbo

pra arrimar romance em lueiro brabo

e o cão no meu sangue ainda diz que é pra sentir

terça-feira, 10 de agosto de 2010

drama prático

estou disposto
em questão
e estou indispondo-me
debochado - no travesso de indispor
as personalidades figuradas no tempo do impasse
que pode passar até, num apelo arcano da informalidade
abraçado
e estou preparado pra destratar quaisquer,
e descartar os enredos limiares da minha consciência imersa
na esteira do empuxo, pra aspirar o vento
pra respirar o céu pela boca crispada de desejo
e engasgar nauseado de perfume lendo os seus lábios
instruirem

terça-feira, 27 de julho de 2010

infinitivo

tens-me em mãos, de convidada
e aviltada de concessões no desapego dos dedos
pra embaralhar o destino, afeito de afoito ou pra dançar
que estás de finta e está pra fitar de
trivelada no soslaio da ambição, vem
perfilar de êxito os olhos cerrados se
enclausurado no miasma da intenção eu te
deixar entreaberta a minha demasia
pra exceder todos poros no castigo da vaidade e
num vislumbre oportuno do espelho
em que te julgarias completa à exceção de música
trocar o brinco esquerdo pelo direito

quinta-feira, 1 de julho de 2010

só de te olhar, tenho um milhão de maus poemas na cabeça
e te dedicaria todos na cara de pau se soubesse que você iria gostar
a questão é, novamente, quando.
ou por quê às vezes basta um verso ser bonito
se você também é,
e se às vezes basta que seja feio
porque eu sou;
desde que seja, de alguma forma
como todo quadro é
figurativo
e todo mundo reitera a ordem cósmica da aproximação
entre eu e você, isto é,
claro
e é uma tragédia filha da puta esse esclarecimento
essa lucidez ofuscante e anasalada chamando o amanhã
pra concentrar o esforço gigante de sentir antes que seja tarde
pra ensurdecer a humanidade de música
ou te perguntar se
você está ouvindo?
presta atenção, por favor
porque eu quero gelar o teu sangue
e eternizar de frio o rubor das tuas faces morenas

segunda-feira, 21 de junho de 2010

condições de contorno

- na prática, um transe ocioso da consciência
porque a natureza extremiza a causalidade
porque a cognição releva as transparências
e toda aparência é implausível a olho nu;

se tudo que não se apreende conserva
a responsabilidade de existir,
enquanto a gente conversa sobre a vigília
numa tirada espirituosa da predicação
em tese, a poesia é anti-sistemática

mastudodepende da
relevância do ruído, até
porque, em geral
os ar-condicionados sinfonizam a noite em si bemol maior

sexta-feira, 11 de junho de 2010

transciência

dê vazão pro desargumento quase agora
(que é
aaaaaaa o sem razão da linguagem) ,
pra fitar os anos justificados numa paragrafação de enganos
aaaaaaa a mecânica do esquecimento redime a invenção

em outras palavras;

é preciso chamar tudo que se é
aaaaaaaaaaaaaa em discurso,
porque a substantivação formaliza o universo
, aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa daqui a pouco;
e só pra constar

quarta-feira, 24 de março de 2010

ossos do ofício

eu sei que importa
(e é o que me está dito no exercício de desertar-me
verso a verso num milhão de coerências)

e se importa
(no que a impostura intelectual da poesia sugere
todos os ardis nos vínculos do sentido)

por quê
(se o elo aprisiona mais que a corrente
e um homem é muito mais do que todos)

eu digo?

segunda-feira, 22 de março de 2010

lagoritmo

é do poro no viso flanante que a presença vaga
e de quanto que a onda dobra insinuosa
desacopla a borda fronte ao exponte onde
na multivaluação do reflexo
narciso contempla um eixo imaginário

e é da esfera no limiar da implicação que a casca
do centro do mundo inteiriço em todas direções
diverge por contra-intuição

dimensa

e asfixia discretamente em anéis

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Em voz alta

Não sei se é a chuva que me estala os ouvidos,
ou o estalo varando a solidão do lábio;
que a boca esbarra nos cabelos compridos
como a chuva diz na linguagem do presságio.

Não sei se é o que venta no empurrão do zumbido,
se vibra na borra da impressão que é paisagem -
que os corpos costuram num véu por despidos,
ou os olhos teceram na canção das imagens.

Porque se é de seda que desgarra o sentido,
ou de sentir que desaba do chão que senta
(pra despir do mundo o pensamento vestido
ou vestir ao avesso a sensação isenta):

- Não sei se é o ouvido que força o estalo em chuva,
ou a solidão varando o estalo de um beijo;
que a garganta engasga na intuição turva

e os cabelos sussurram na língua do ensejo.

domingo, 17 de janeiro de 2010

literalmente

foi o risco de ser esquecido que cristalizou minha personalidade
e a comédia afundou o dedo na goela do meu espírito,

em certa medida,
eu sou um sintoma da minha própria iniciação
no drama impessoal de você
até porque os verdadeiros detalhes são ocultos
e qualquer verso é uma realidade especular dos teus

(repensada no desarranjo da ordem elementar
a poesia é imediata)