estou possuído
por um par de olhos hipermétropes
no pouso do marasmo
meus deuses
esfumaçaram suas figuras familiares
irreconheciveis
em igual medida
eu respiro
vagarosamente
o ar umidamente pesado
de uma sugestão amazônica
por um processo análogo,
eu amo
alguma coisa que não existe
e a ela apenas
devoto toda compaixão
pelo sacrifício
dos dias
na vaidade comovida
de um abraço fraternal
acompanhado secretamente
por um deja vu
(de minha parte)
estou possuído
pela inconstância da vontade
e pelo pessimismo
que se exprime
como uma língua comum,
e toca
falsamente
a alma do mundo
Todo
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
A felicidade existe, e é pura
Completa, ela é una e multiplica
Vária, ela é inteira plena e se replica
Eterna, ela é passada, ela é futura
Terna tanto quanto é terno o amor
Verdadeiro como ela é verdadeira,
Ela é total, e anima todo humor
À sua imagem última, primeira.
A felicidade é simples, é vã
Despropositada e até insolente
Pra sorrir em segredo nesse breu
Ela é madrugada, ela é manhã
Que a gente escolhe saber iminente
Ela é a escolha, e é minha, sou eu
Completa, ela é una e multiplica
Vária, ela é inteira plena e se replica
Eterna, ela é passada, ela é futura
Terna tanto quanto é terno o amor
Verdadeiro como ela é verdadeira,
Ela é total, e anima todo humor
À sua imagem última, primeira.
A felicidade é simples, é vã
Despropositada e até insolente
Pra sorrir em segredo nesse breu
Ela é madrugada, ela é manhã
Que a gente escolhe saber iminente
Ela é a escolha, e é minha, sou eu
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
A Fortuna é irmã da Cegueira
E vou possuí-la assim, mulher;
Misticamente moça, primeira,
À maneira apenas que ela é.
Mas há de ser outra no futuro
Quando em outros braços for feitiço
Pra cegar até um herói mais puro
Na escravidão total que é só isso.
Eu, irmanado a angústia, nasci,
Por quê negar a minha raiz
Com tanta ironia que há no mundo?
Vou viver da chance de exibir
Meu charme, mas serei infeliz
Infeliz lá no fundo, no fundo...
E vou possuí-la assim, mulher;
Misticamente moça, primeira,
À maneira apenas que ela é.
Mas há de ser outra no futuro
Quando em outros braços for feitiço
Pra cegar até um herói mais puro
Na escravidão total que é só isso.
Eu, irmanado a angústia, nasci,
Por quê negar a minha raiz
Com tanta ironia que há no mundo?
Vou viver da chance de exibir
Meu charme, mas serei infeliz
Infeliz lá no fundo, no fundo...
confidência #2
Sou desonesto pra servir, e sou
Desalmado de se amar, sou ingrato
Eu sou pueril e ignoro o fato
Da vida, e de estar aqui, onde estou.
Não sei me articular, não propriamente
Já que estou inerte e não reconheço
Meu sonho, todo esforço desconheço;
Toda memória, eu desconfio, mente.
Mas é potente a conjuntura, grande
E me empurra nessa maré que insiste
Em surpreender minha natureza
Que é enganar; já me engano, enganante
Pra se destruir meu corpo resiste;
Vou me agigantar na minha baixeza.
Desalmado de se amar, sou ingrato
Eu sou pueril e ignoro o fato
Da vida, e de estar aqui, onde estou.
Não sei me articular, não propriamente
Já que estou inerte e não reconheço
Meu sonho, todo esforço desconheço;
Toda memória, eu desconfio, mente.
Mas é potente a conjuntura, grande
E me empurra nessa maré que insiste
Em surpreender minha natureza
Que é enganar; já me engano, enganante
Pra se destruir meu corpo resiste;
Vou me agigantar na minha baixeza.
sábado, 16 de junho de 2012
terça-feira, 1 de maio de 2012
confidência #1
Meu engajamento ao contexto é total
diz alguém, com uma clara intenção de melancolia
e a lei marcial da informação poética é
informar do sentimento
(não combatemos a tristeza,
combatemos o vazio)
graças a Deus, as palavras são vazias
também.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Há um innuendo vocal próprio a desgraça
Do desencontro a franzir no sobrelábio
Ao esfarelamento da língua inábil
E que a toda expressão limiar devassa
E há qualquer intenção de quase um sintoma
Quando a palavra cessa ao fim da sentença
Que é uma nota cava a anunciar doença
E a sugestão negra do nosso idioma
Numa cega punção de evitar ver
Os olhos de a quem se empresta evidência
Toda um velho drama de reparação
A revelação vazia de saber
Por quê é claro não pedir-se licença
Pra partir em pedaços um coração
Do desencontro a franzir no sobrelábio
Ao esfarelamento da língua inábil
E que a toda expressão limiar devassa
E há qualquer intenção de quase um sintoma
Quando a palavra cessa ao fim da sentença
Que é uma nota cava a anunciar doença
E a sugestão negra do nosso idioma
Numa cega punção de evitar ver
Os olhos de a quem se empresta evidência
Toda um velho drama de reparação
A revelação vazia de saber
Por quê é claro não pedir-se licença
Pra partir em pedaços um coração
terça-feira, 24 de abril de 2012
quarta-feira, 11 de abril de 2012
hermenêutica de quando o real é deserto
o real não é um objeto, um atributo do qual
as coisas tomam posse; o real é um sujeito
no percurso do herói, eu acredito que
sou real, mas é o real que toma posse de mim
quando lhe apraz; a minha existência é vazada
e o real me penetra, como penetra um deserto
a desolação não é da natureza do real, mas o real
se traveste em desolação. o real usa a desolação
como um vestido; é do vestido ser inerte.
há uma autonomia anônima do real
nesse deserto
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